Contam que...
herdei dotes culinários da minha bisavó paterna.
Não a conheci, mas sei que viveu para lá da serra da Gralheira...
...e também, que os dias das colheitas e sementeiras eram conhecidos e falados, muito além da "Casa do Muro"
Uma breve homenagem a meu Pai!!
... que nunca esqueceu a Casa do Muro.
Estes são testemunhos que me transmitiu. Mais tarde, outros gostarei de recordar!
Era uma grande propriedade e a que foi dado o nome de Casa do Muro. Nas lides sazonais da lavoura rogava-se muita gente, para ajudar nas tarefas, que eram: as sementeiras, a malha dos cereais, as ceifas, as vindimas e outros.
Estas tarefas, eram pagas com troca de trabalhos e recursos para o benefício de outras casas, uma entreajuda mutua a que chamavam de, tornas. E assim viviam como uma grande família.
A minha bisavó, organizava esses dias, como um dia de uma festa se tratasse, vigiando e orientando para que tudo se aprontasse a horas. E ao romper do dia, com cinco refeições a preparar, a azáfama na cozinha já era grande.
Começava pelo raiar da manhã com o quebrajum, refeição frugal só para aconchegar o estômago. Que podia ser: uma malga de leite e broa, figos, azeitonas, e não faltando à mesa, a aguardente para os homens,nos dias frios de inverno.
A meio da manha, entre as 10 e 10,30 horas, e se a faina fica-se longe de casa, o almoço (assim chamado), era levado aos trabalhadores e por mulheres, que carregavam à cabeça a canastra forrada com grossa toalha de estopa onde fumegavam travessas com o bacalhau de consoada (assim chamado, por ser igual ao da consoada), não faltando a broa, o bom vinho e bom azeite.
Vinha depois o jantar entre as 13 e 14 horas. O tão esperado, comer do forno. Onde a galinha gorda e dourada saía do forno acompanhada de um aromático alguidar de arroz. Após a farta refeição e se o sol ainda ia alto, procurava-se uma sombra para um breve descanso.
Pelas 17horas, eram levadas as cestas com a merenda. As iguarias não eram muito variadas, mas o povo não era exigente. Havia boas chouriças saídas do fumeiro, fatias de presunto e não faltando as saborosas azeitonas curtidas em cinza e ao luar, e para acompanhar, a broa e o vinho.
No final do dia e depois de todas as alfaias da lavoura guardadas, e animais tratados, era servida a ceia. Os aromas saídos da cozinha caracterizavam cada época do ano e os produtos da terra... havia vagens acabadas de colher...
Ia a cozer um naco de presunto e entremeada... juntava-se uma chouriças e uma boa porção de feijão seco, e ia cozinhando a fogo lento, nas rústicas panelas pretas de ferro. Quando cozido, acrescentava-se então as vagens cortadas ao alto e finas... e assim terminava esse dia da lavoura.
Chegava o momento tão ansiosamente esperado pelos mais novos. O baile e com direito a tocadores! E esse rancho de gente, depois de um dia de trabalho e suor, terminavam assim, com alegria e folguedos.
Para gente desprovida, do que seria o mais essencial, estes dias, eram compensados pela abastança de alimentos e o entusiasmo de dançar ao som dos tocadores. E assim se passavam os dias de faina, na Casa do Muro.
Gente de muito agrado, diziam. Era então, com esse agrado e alegria que vinham às fainas desta casa!
Esta receita de Arroz de forno, pela simplicidade de ingredientes permite que a vasilha de barro lhe transmita o seu paladar característico.
São os usos e costumes de um povo!!
Quem já não sonhou ou viajou através dos seus paladares... quantas recordações bem guardadas!!
...E como disse o poeta... "O Sonho Comanda a Vida"
Ingredientes para 5 pessoas
400 g de arroz agulha
1 cebola grande
7 colheres de azeite
1 chávena de caldo de carne
1 raminho de salsa
sal
Preparação
Um forno de lenha!!
receitasdonarosa. Autora da foto
Uma breve homenagem a meu Pai!!
... que nunca esqueceu a Casa do Muro.
Estes são testemunhos que me transmitiu. Mais tarde, outros gostarei de recordar!
Era uma grande propriedade e a que foi dado o nome de Casa do Muro. Nas lides sazonais da lavoura rogava-se muita gente, para ajudar nas tarefas, que eram: as sementeiras, a malha dos cereais, as ceifas, as vindimas e outros.
Estas tarefas, eram pagas com troca de trabalhos e recursos para o benefício de outras casas, uma entreajuda mutua a que chamavam de, tornas. E assim viviam como uma grande família.
A minha bisavó, organizava esses dias, como um dia de uma festa se tratasse, vigiando e orientando para que tudo se aprontasse a horas. E ao romper do dia, com cinco refeições a preparar, a azáfama na cozinha já era grande.
Começava pelo raiar da manhã com o quebrajum, refeição frugal só para aconchegar o estômago. Que podia ser: uma malga de leite e broa, figos, azeitonas, e não faltando à mesa, a aguardente para os homens,nos dias frios de inverno.
A meio da manha, entre as 10 e 10,30 horas, e se a faina fica-se longe de casa, o almoço (assim chamado), era levado aos trabalhadores e por mulheres, que carregavam à cabeça a canastra forrada com grossa toalha de estopa onde fumegavam travessas com o bacalhau de consoada (assim chamado, por ser igual ao da consoada), não faltando a broa, o bom vinho e bom azeite.
Vinha depois o jantar entre as 13 e 14 horas. O tão esperado, comer do forno. Onde a galinha gorda e dourada saía do forno acompanhada de um aromático alguidar de arroz. Após a farta refeição e se o sol ainda ia alto, procurava-se uma sombra para um breve descanso.
Pelas 17horas, eram levadas as cestas com a merenda. As iguarias não eram muito variadas, mas o povo não era exigente. Havia boas chouriças saídas do fumeiro, fatias de presunto e não faltando as saborosas azeitonas curtidas em cinza e ao luar, e para acompanhar, a broa e o vinho.
No final do dia e depois de todas as alfaias da lavoura guardadas, e animais tratados, era servida a ceia. Os aromas saídos da cozinha caracterizavam cada época do ano e os produtos da terra... havia vagens acabadas de colher...
Ia a cozer um naco de presunto e entremeada... juntava-se uma chouriças e uma boa porção de feijão seco, e ia cozinhando a fogo lento, nas rústicas panelas pretas de ferro. Quando cozido, acrescentava-se então as vagens cortadas ao alto e finas... e assim terminava esse dia da lavoura.
Chegava o momento tão ansiosamente esperado pelos mais novos. O baile e com direito a tocadores! E esse rancho de gente, depois de um dia de trabalho e suor, terminavam assim, com alegria e folguedos.
Para gente desprovida, do que seria o mais essencial, estes dias, eram compensados pela abastança de alimentos e o entusiasmo de dançar ao som dos tocadores. E assim se passavam os dias de faina, na Casa do Muro.
Gente de muito agrado, diziam. Era então, com esse agrado e alegria que vinham às fainas desta casa!
Esta receita de Arroz de forno, pela simplicidade de ingredientes permite que a vasilha de barro lhe transmita o seu paladar característico.
São os usos e costumes de um povo!!
Quem já não sonhou ou viajou através dos seus paladares... quantas recordações bem guardadas!!
...E como disse o poeta... "O Sonho Comanda a Vida"
400 g de arroz agulha
1 cebola grande
7 colheres de azeite
1 chávena de caldo de carne
1 raminho de salsa
sal
Preparação
- Aqueça o forno a 170º
- Lave o arroz e deite no alguidar de barro, cubra bem todo o arroz com cebola às rodelas grossas, a salsa e o azeite, adicione água quente e quando começar a tapar o arroz verifique para que não ultrapasse, a falangeta do dedo mínimo, tempere de sal e leve ao forno até a cebola estar bem dourada.
- Preparar a calda do arroz. Utilize o caldo de carne, com um cubo de carne ou caldo do assado do forno e perfaça 3 dl de caldo. Retire o alguidar do forno, e tira-se a cebola, deite o caldo começando pelas beiras do alguidar terminando no centro, com um garfo vai mexer todo o arroz e com especial atenção ao centro onde pode estar ainda mal cozido, depois de todo o arroz bem envolvido na calda volta ao forno para alourar e acabar de abrir.
Significado de palavras do texto
ALFAIA Ferramentas
Agrícolas
MALGA Tigela vidrada , para
sopa
TORNAS Entreajuda mútua
ROGAVA-SE Convidar ou contratar pessoas para trabalhar
CANASTRA Cesta larga e baixa com ou sem tampa feita de verga entrançada
FOLGUEDOS Acto de brincar, divertimento
QUEBRAJUM Moderada refeição matinal
TOCADORES Homens
que tocavam instrumentos musicais
RANCHO
DE GENTE Conjunto de pessoas de número variável
COMER DE FORNO Carnes, arroz e batatas, assados no forno de lenha
Este receita foi o 3º post que publiquei em 2011. Só retomei as publicações após um ano e não pude fazer alterações: no tipo e corpo de letra. Sem querer, inutilizei a publicação, só poderia remediar, voltando a publicar!
É um retrato da vida no campo do principio do século 2o. Procurei que as palavras e frases, fossem as utilizadas naqueles lugares.
Um forno de lenha!!
receitasdonarosa. Autora da foto