29 de janeiro de 2014

Arroz de Forno... com História de Tradições



Contam que...
herdei dotes culinários da minha bisavó paterna.
Não a conheci, mas sei que viveu para lá da serra da Gralheira...
...e também, que os dias das colheitas e sementeiras eram conhecidos e falados, muito além  da "Casa do Muro"




Uma breve homenagem a meu Pai!! 
... que nunca esqueceu a Casa do Muro.
Estes são testemunhos que me transmitiu.  Mais tarde, outros gostarei de recordar!

Era uma grande propriedade e a que foi dado o nome de Casa do Muro. Nas lides sazonais da lavoura rogava-se muita gente, para ajudar nas tarefas, que eram: as sementeiras, a malha dos cereais, as ceifas, as vindimas e outros.

Estas tarefas, eram pagas com troca de trabalhos e recursos para o benefício de outras casas,  uma entreajuda mutua a que chamavam de, tornas. E assim viviam como uma grande família.

A minha bisavó, organizava esses dias, como um dia de uma festa se tratasse, vigiando e  orientando para que tudo se aprontasse a  horas. E ao romper do dia, com cinco refeições a preparar, a azáfama na cozinha já era grande.

Começava pelo raiar da manhã com o quebrajum, refeição frugal só para aconchegar o estômago. Que podia ser: uma malga de leite e broa, figos, azeitonas, e não faltando à mesa, a aguardente para os homens,nos dias frios de inverno.

A meio da manha, entre as 10 e 10,30 horas, e se a faina fica-se longe de casa, o almoço (assim chamado), era  levado aos trabalhadores e por mulheres, que carregavam à cabeça a canastra forrada com grossa toalha de estopa onde fumegavam travessas com o bacalhau de consoada (assim chamado, por ser igual ao da consoada), não faltando a broa, o bom vinho e bom azeite.  

Vinha depois o jantar entre as 13 e 14 horas. O tão esperado, comer do forno. Onde a galinha gorda e dourada saía do forno acompanhada  de um aromático alguidar de arroz. Após a farta refeição e se o sol ainda ia alto, procurava-se uma sombra para um breve descanso.

Pelas 17horas, eram levadas as cestas com a merenda. As iguarias não eram muito variadas, mas o povo não era exigente. Havia boas chouriças saídas do fumeiro, fatias de presunto e não faltando as saborosas azeitonas curtidas em cinza e ao luar, e para acompanhar, a broa e o vinho.

No final do dia e depois de todas as alfaias da lavoura guardadas, e animais tratados, era servida a ceia. Os aromas saídos da cozinha caracterizavam cada época do ano e os produtos da terra... havia vagens acabadas de colher...

Ia a cozer um naco de presunto e entremeada... juntava-se uma chouriças e uma boa porção de feijão seco, e ia cozinhando a fogo lento, nas rústicas panelas pretas de ferro. Quando cozido, acrescentava-se então as vagens cortadas ao alto e finas... e assim terminava esse dia da lavoura.

Chegava o momento tão ansiosamente esperado pelos mais novos. O baile e com direito a tocadores! E esse rancho de gente, depois de um dia de trabalho e suor, terminavam assim, com alegria e folguedos.

Para gente desprovida, do que seria o mais essencial, estes dias, eram compensados pela abastança de alimentos e o entusiasmo de dançar ao som dos tocadores. E assim se passavam os dias de faina, na Casa do Muro.
Gente de muito agrado, diziam. Era então, com esse agrado e alegria que vinham às fainas desta casa!  




Esta receita de Arroz de forno, pela simplicidade de ingredientes permite que a vasilha de barro lhe transmita o seu paladar característico.
São os usos e costumes de um povo!!

Quem já não sonhou ou viajou através dos seus paladares... quantas recordações bem guardadas!!  
...E como disse o poeta...  "O Sonho Comanda a Vida" 

Ingredientes para 5 pessoas

400 g de arroz agulha 
1  cebola grande
7 colheres de azeite
1  chávena de caldo de carne
1  raminho de salsa
sal

Preparação

  1. Aqueça o forno a 170º
  2. Lave o arroz e deite no alguidar de barro, cubra bem todo o arroz com cebola às rodelas grossas, a salsa e o azeite, adicione água quente e quando começar a tapar o arroz verifique para que não ultrapasse, a falangeta do dedo mínimo, tempere de sal e leve ao forno até a cebola estar bem dourada.
  3. Preparar a calda do arroz. Utilize o caldo de carne,  com um cubo de carne ou caldo do assado do forno e perfaça 3 dl de caldo. Retire o alguidar do forno, e tira-se a cebola, deite o caldo começando pelas beiras do alguidar terminando no centro, com um garfo vai mexer todo o arroz e com especial atenção ao centro onde pode estar ainda mal cozido, depois de todo o arroz bem envolvido na calda volta ao forno para alourar e acabar de abrir.
Tem localidades em que é dada a calda ao arroz, sem tirar a cebola e sem mexer o arroz.




















Significado de palavras do texto
ALFAIA                            Ferramentas Agrícolas    
MALGA                           Tigela vidrada , para sopa 
TORNAS                         Entreajuda mútua 
ROGAVA-SE                  Convidar ou contratar pessoas para trabalhar                      
CANASTRA                    Cesta larga e baixa com ou sem tampa feita de verga entrançada
FOLGUEDOS                 Acto de brincar, divertimento
QUEBRAJUM                 Moderada refeição matinal
TOCADORES                 Homens que tocavam instrumentos musicais
RANCHO DE GENTE    Conjunto de pessoas de número variável
COMER DE FORNO      Carnes, arroz e batatas, assados no forno de lenha



Este receita foi o 3º post que publiquei em 2011. Só retomei as publicações após um ano e não pude fazer alterações: no tipo e corpo de letra. Sem querer, inutilizei a publicação, só poderia remediar, voltando a publicar!
É um retrato da vida no campo do principio do século 2o. Procurei que as palavras e frases, fossem as utilizadas naqueles lugares.

  


Um forno de lenha!!   




receitasdonarosa.   Autora da foto 


20 de janeiro de 2014

Frango Dourado com Massa de Pimentão







Gostamos muito de frango!! Confecciono-o de muitas e variadas formas, mas o nosso gostinho especial vai para um frango assado que aprendemos a preparar. Estávamos em Loureço Marques  na década de 60.



Papaeira







Coco com casca e coco ralado  



























Em Moçambique o frango à Cafreal era uma das especialidades características da sua gastronomia. O frango é grelhado no carvão com temperos que variam  mediante os costumes tribais. Tive a oportunidade de conhecer dois dos ingredientes que eram acrescentados ao tempero básico do frango. O leite de coco e o leite retirado das folhas da papaeira. 





Mas... hoje não trago a receita desse frango (virá noutra altura). Vamos conhecer uma receita que é muito fácil de cozinhar e... ainda mais fácil de temperar!
Uma das delicias com o tempero da massa de pimentão!!


Ingredientes

1 frango de 600 a 650 g
1 colher de sopa, cheia de massa de pimentão
0,5 dl de azeite
Não leva sal, porque a massa de pimentão já o tem na quantidade suficiente


Preparação

Limpe o frango de excessos de gorduras e abra ao meio como para o churrasco. Golpeie as asas para abrirem para o lado e o peito, para que os sabores penetrem melhor. Espalhe o tempero por todo o frango e introduza também na área golpeada e entre a cocha e o peito do frango, deixe marinar 30 minutos.
Num tacho largo deite o ajeite e deixe aquecer bem, coloque o frango com a pele para baixo. Na placa  vitrocerâmica deve colocar no nº 3 e 4, disco grande. Vá alterando o nº mediante se a pele  tende a dourar em demasia. Vire e vigie, cozinha em 30 minutos, mais tempo, é consoante o gosto.















10 de janeiro de 2014

Massa de pimentão e Saberes...de Sal...



Saberes... de sal... com Massa de Pimentão




Platão escrevia a certa altura, que o sal é uma substancia cara aos deuses. E não andaria muito longe da realidade. Desde a antiguidade que o sal é utilizado pelos homens e, é considerado um bem muitíssimo precioso. 

Consideravam eles que era uma dádiva dos Deuses e associaram-na tanto à religião, quanto à bruxaria.

Para além disso, o seu valor monetário e económico era comparável ao do ouro, da sede e 
das especiarias.

Os registos do uso do sal remontam à 5 mil anos. Ele já era usado na Babilónia, no Egipto, na China e em civilizações pré-colombianas. Nas civilizações mais antigas, contudo, apenas as populações costeiras tinham acesso a ele.

Escasso e precioso, o sal era vendido a peso de ouro. Em diversas ocasiões, foi usado como dinheiro. Entre os exemplos históricos mais conhecidos, figura o costume romano, de pagar em sal parte da remuneração dos soldados, o que deu origem à palavra salário. Ainda hoje um dos principais acessos de Roma se chama "Via Salária" pois era por esse caminho que chegavam as caravanas trazendo sal para a capital do império.

Nossos antepassados já sabiam da importância de conservar os alimentos para que não estragassem. Na época da Pré-História, quando os homens voltavam da caça, deixavam a carne que sobrava perto do fogo para receber calor e fumaça até ficar bem seca. Foi assim que surgiu um dos primeiros métodos de conservação de alimentos: a defumação. Defumar, secar ao sol e salgar retiram a água dos alimentos e são os métodos mais antigos de conservação desenvolvidos pelo ser humano.

O sal desidrata os alimentos, retirando ou diminuindo a quantidade de água. Neste mesmo processo, acontece a destruição parcial ou total dos microrganismos que alteram a qualidade dos alimentos. Desta forma, aumentamos a durabilidade destes alimentos, porque foi diminuída da ou eliminada a reprodução microbiana que estraga o alimento

Hoje trago uma conserva preparada pelos métodos primários e... que não se iguala em paladar, à conserva industrial! 

 Como preparar... Massa de pimentão !
  1. Escolhe-se os pimentos grandes e compridos e com a casca o mais lisa possível.
  2. Lavar e secar muito bem os pimentos, abrir e retirar bem as sementes e as películas brancos que tem no interior. 
  3. Como as extremidades do pimento são côncavas, cortar e reservar.  

Coloca-se sobre a mesa os ingredientes e a rede sobre o recipiente.
  1. O pimento cortado e o sal.
  2. Um passador de rede larga de plástico para colocar dentro de um recipiente que vai reter o liquido em que o sal se vai tornar.





Usei:
1 kg  de pimentos
1/2 kg de sal, +/-

As camadas de pimento podem ser mais: Eu utilizo recipientes maiores para poder fazer quantidades generosas.



1ª  Camada, os pedaços côncavos reservados são colocados na rede e cola-se o sal.























2ª   Camada, coloca-se os pedaços do pimento bem esticados e acamam-se sobre 1ª camada  espalhando o sal de forma a que toda a base do pimento fique tapada com sal.




3ª  Camada, repete-se como na 2ª camada; e como neste caso será a última, a camada de sal é reforçada.

E vai para o frigorífico... Devia ficar destapado, mas pode colocar uma tampa desde que não tape na totalidade e deixe arejar. Se o passador ficar muito justo à tigela que vai recolher o liquido e muito tapado, vai originar que o bolor se possa desenvolver.
Quando houver liquido na tigela retire e, assim dessa forma, o frigorífico não vai reter odores. 

O tempo de permanência no frio é um pouco relativo, depende da temperatura em que está o frigorífico e a maturação do fruto. Nunca inferior a três semanas e o ideal são quatro a cinco semanas. 
  




















Retira-se a tigela  do frio e sacodesse o excesso de sal. Corta-se cada tira em três pedaços e no robot de cozinha tritura-se ao nosso gosto, dependendo também de como a vai utilizar. 




Para guardar esta conserva utiliza-se a mesma técnica de esterilizar os frascos, como aqui

Colocar a conserva nos frascos e comprimir para evitar espaços vazios e cobrir com uma camada de azeite de 1 centímetro. Guardar no frio




  Vale muito em paladar...  e é tão pouco o esforço que despendemos !

Podem fazer-se maravilhas com este tempero. Pode ser utilizado em quase tudo que confeccionamos. Sobejamente conhecida, é a carne de porco à Alentejana, cujo principal tempero, é a massa de pimentão. Conserva característica do Alentejo, mas actualmente generalizada por todo o país. 
  
Brevemente trarei novidades !!





Novos tipos de conservação foram surgindo. Além da desidratação e da defumação, anteriormente mencionadas, existiam povos que cozinhavam suas caças e as deixavam imersas em gordura.
Esse método consiste em uma barreira física. O alimento fica isolado do ar e da água impedindo, assim, a acção de micro-organismos.

Ao longo dos séculos recorreu-se a todas as formas para a conservação dos alimentos e as várias formas dessa utilização mediante as zonas climáticas.
                                                        

                                                                                                                                         Continua...








1 de janeiro de 2014

Sonhos com Chocolate




Feliz Ano Novo 2014 com 
Dia Um... Na Cozinha!






O nosso primeiro desafio de 2014 mantém a doçura da quadra festiva... e vamos desfilar as nossas iguarias! 

A minha participação é com um doce bem tradicional e que é confeccionado em quase todo o país. Já o partilhei na sua maior simplicidade, mas hoje, para iniciar o ano vêm de traje mais elaborado. 

Sonhos de Chocolate assim que vi a receita numa tele culinária e bem antiga... não pude resistir à sua originalidade.





Quero desejar a todos os participantes desta pagina, simpatizantes e... todos em geral!   O melhor ano possível para que possa existir felicidade em nossos corações!!







Ingredientes

Para a massa
0,5 l de água
250 g de farinha, tipo 55
80 g de manteiga
1 casca de limão
5 ovos
Óleo para fritar

Para o creme
250 g de chocolate de culinária
50 g de manteiga

Preparação

Leve ao lume um tacho com água, sal, casca do limão e a manteiga; logo que ferva, retire do lume, junte a farinha e mexa muito bem. Quando estiver bem misturada, leve de novo ao lume, mexendo sempre até a massa se descolar do tacho com facilidade. Retire a massa do lume, deite-a numa tigela e deixe arrefecer um pouco.

Vá então juntando os ovos, um a um, e mexa bem para a massa ficar bem misturada.

Leve ao lume um tacho com bastante óleo, deixe aquecer bem, e comece a fritar os sonhos deitando colheradas (sopa) bem cheias de massa. Durante a fritura, vá-os picando com um garfo para que eles abram bem.

Depois de fritos, retire-os do óleo e deixe-os arrefecer.

Leve ao lume, em banho-maria, o chocolate com a manteiga, deixe derreter e misture bem. Mergulhe os sonhos, um a um, no chocolate e coloque-os no prato de serviço.









Notas minhas
A temperatura para os sonhos perfeitos, deve ser muito baixa, nas placas no nº 4 e em gás, médio fraco, também depende da quantidade, mas se a vasilha levar 5 ou 6 sonhos, pode elevar um pouco a temperatura. Fritando assim lentamente eles viram-se sem lhe tocarmos e abrem-se também da mesma forma. Convém que só se mexa ,e pouco, quando estão já dourados e que estejam abertos. Crescem muito ao cozerem.






























Sonhos sem Chocolate... Aqui !!

Experimente... Que são um Sonho...